domingo, 5 de dezembro de 2010

a cura e o curador

Como alguém torna-se um curador? Alguns são auto-selecionados, dotados por herança espiritual, outros são treinados nos mistérios da natureza e nas leis naturais e transcendentais pelos mais velhos de sua comunidade, como acontece com os xamãs siberianos e indígenas. Outros herdam geneticamente de seus ancestrais os dons de curar, e espontaneamente manifestam esse poder assim como o conhecimento dos princípios curativos de ervas, raízes, cristais, elixires e fumigações. Outros ainda recebem os dons pela Graça, sendo agraciados por revelações advindas de níveis superiores de realidade. Por outro lado muitos estudam anos em universidades conhecem fármacos e técnicas de diagnóstico e cirurgias, para descobrir que o corpo humano surpreende e desafia conhecimentos formais e descobertas científicas. Porém, todos os curadores desabrocham de si mesmos, sejam eles acadêmicos ou informais. A espiritualidade surge quando o conhecimento formal deixa o domínio do intelecto e passa a ser experiência interior. No caso dos xamãs isso acontece depois de uma vivência mágica, quando passam por uma experiência transcendental de morte e renascimento. Dessa experiência eles emergem tendo superado padrões limitadores de consciência. Eles adquirem refinamento dos sentidos físicos e interiores, e uma nova percepção de si mesmos, e das dimensões pelas quais transita sua mente e o seu espírito. Trata-se de uma iniciação profunda que permite ao iniciado livre acesso a luz do conhecimento, e as trevas da ignorância. Da Luz às trevas e das trevas à Luz. O xamã mergulha no desconhecido e vem à tona como portador de soluções. Por isso ele é capaz de colher informações transitando pelos três mundos, físico, astral e causal sem se aprisionar, e retornar incólume para a tridimensionalidade. E a partir daí atuar de modo eficiente na solução de problemas, sejam emocionais, sejam doenças físicas sofridas por quem o consulta. Diante do paciente, o curador xamanico se coloca humildemente a serviço das forças da natureza, e permite que a intuição e o conhecimento ancestral e ritualístico atuem em conjunto. Existem qualidades específicas que caracterizam o curador, seja ele um medico ou um xamã; dentre elas podemos destacar, a visão holística, o conhecimento da energia vital e seu funcionamento e circulação no meio ambiente, e em todos os seres vivos. O curador tem consciência do mistério e reverencia o poder sagrado que permeia tudo que existe. Ele o faz porque sabe que existe uma Fonte de energia primordial que propicia a criação, manutenção, restauração e renovação da vida. Por isso, ele pode dela ser abastecido e abastecer as pessoas carentes dessa conexão com a energia universal de cura. Todo curador acessa facilmente os campos de infinitas possibilidades da inspiração, também reconhece símbolos que interpretam como sinais orientadores. Não importa se ele foi instruído na universidade, ou no livro sagrado da natureza. O curador é alguém que se entrega confiante ao inesperado e surpreendente, e que se oferece como instrumento para que a harmonia do universo se revele em forma de cura. Além disso, o curador tem o dom da introvisão, da intuição. Penetra nas estruturas do caráter e comportamento das pessoas e principalmente sabe ser alegre e desapegado dos dramas, derrotas e vitórias eventuais, portanto encara com leveza a mutabilidade e a fragilidade da condição humana. Todo curador tem habilidade para alterar seu nível de consciência sempre que desejar ou se fizer necessário para o bem comum. Seja ele(a) um medico, ou um místico xamã, para curar é preciso estar em sintonia com a mutação da vida, a divina alquimia que torna os milagres naturais. Antes de tudo, o que define o curador, e nutre sua capacidade de curar, é além do conhecimento e competência formal ou despertada, a autoconfiança, a coragem de ousar e a parceria corajosa com o desconhecido atravez da integridade e da pureza do seu caráter. Baseado nisso ele (a) desenvolve o foco na saúde, e não na doença, na retidão, na beleza e no respeito pela vida humana. É irrelevante se o curador é um pajé, um xamã siberiano ou tibetano ou um medico, ele é alguém que crê na vida, e que ultrapassa sem temor os condicionamentos formais, técnicos, familiares, profissionais, sociais ou culturais. Supera dogmas, corre riscos e elege um método eficaz, generoso e direto de atuar, e perceber a ação do divino naquilo que faz. Desse modo se posiciona como um servidor, tanto dos seres humanos como da natureza e do universo. O curador tem olhos de criança descobrindo e se deslumbrando sempre, e se posicionando com equilíbrio e reverência diante dos surpreendentes poderes do corpo e do espírito. A doação de tempo, conhecimento, amor, atenção e carinho delineiam o caminho da cura. Porém, doação implica saber receber. Para que a cura aconteça é preciso que curador e paciente saibam receber tanto quanto possam saber doar. O universo atua atravez de trocas recíprocas. E a natureza nos ensina que na sua dinâmica inovadora nada é dado infinitamente somente de um lado, sem que o outro lado receba também. Por exemplo: Um lago é alimentado por uma nascente, uma entrada de água, e tem também uma saída, seja pela evaporação ou uma abertura para um regato. Se a fonte secar, ou for desviada, o lago deixará de existir e o regato de ser alimentado. Na delicada e frágil teia da vida, a interdependência e a reciprocidade, são leis sagradas de sobrevivência. Integrado com a Terra, e com os céus, o curador compreende a doença como desarmonia entre corpo, mente e espírito, e desses com a natureza e o universo, por isso busca soluções para restaurar o equilíbrio que sustenta a coexistência. Para o curador, a saúde é um estado de integração corpo, mente e espírito. E meio caminho andado para a cura é nos livrarmos da ilusão de isolamento, e percebermos a inter-relação entre o homem natural, intelectual e espiritual. Ele(a) sabe que ninguém cura ninguém, mas que ele,(a) pode ser o agente do despertar do curador interior que vive em cada um de nós. Remédios usados sem critério, ou mesmo sem receituário medico podem fazer efeito momentâneo, mas também mascarar sintomas, e prejudicar a cura. Porém, se usados corretamente e indicados por profissionais competentes podem curar doenças e aliviar dores, mas, somente quando o curador interior que vive em cada um de nós é ativado existe cura verdadeira. Se o curador interior não for despertado, as medicações serão apenas paliativas, por mais competente que seja o medico ou o xamã. Generosidade, autoconfiança, humildade, amor ao próximo, reverencia pelo sagrado, sintonia fina com o universo, e parceria amorosa com a vida; essas são as principais regras seguidas pelo curador. Desse modo, ele se oferece como veículo e é capacitado pelo poder criativo e restaurador da natureza, e é regido pela lei da potencialidade pura do universo


Marilu Martinelli

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