segunda-feira, 21 de março de 2011

O sal da terra

Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se tornar insosso, com que se há de salgar? Para nada mais serve, sendo para ser lançado fora e pisado pelos homens.
Na Índia, quando um discípulo busca um mestre, este, antes de mais nada, procura infundir-lhe confiança em si próprio, e o sentimento de que a fraqueza, a covardia e o fracasso não fazem parte da sua verdadeira natureza. No segundo livro do Bhagavad-Gita, quase às primeiras palavras de Sri Krishna — a encarnação divina — a Arjuna, lemos: "Que fraqueza é essa? Ela está abaixo de você... Livre-se dessa covardia!”
Assim como você vê o conteúdo de um armário de louça através de suas portas de vidro, assim um grande mestre vê o íntimo do seu coração. Entretanto, ele não o condena por suas faltas e fraquezas. Ele conhece a natureza humana. E porque sabe que, ao sentir-se fraco e deprimido, você não consegue realizar nada, não pode crescer espiritualmente — ele lhe transmite confiança em si mesmo.
O mestre não enxerga apenas o que você é agora, mas também as capacidades que você pode desenvolver. Há alguns anos, um jovem swami, deixando a Índia para ir pregar na América, procurou o Swami Turiyananda. Quando este grande discípulo de Sri Ramakrishna se pôs a elogiar com ênfase o jovem monge, este protestou: "Senhor, não tenho nenhuma das qualidades com que estás me elogiando!" Replicou-lhe Turiyananda: "Que sabes sobre ti mesmo? Vejo o que estás para revelar!" Temos todos o poder de revelar a divindade latente em nós; o mestre, porém, dá-nos confiança em nossa capacidade de fazê-lo. Ao mesmo tempo, impõe-se lembrar a bem-aventurança: "Bem-aventurados os mansos..." A mansidão e a confiança em si mesmo precisam estar juntas. A fé que Cristo incutia em seus discípulos, chamando-os de "sal da terra", não era a fé no Eu inferior, no ego, mas a fé no Eu superior, a fé no Deus dentro de nós. Com essa fé, vem a auto-submissão, a libertação de todo sentimento do ego.
Sri Ramakrishna ilustrava esta verdade com uma passagem da mitologia hindu. Contava ele como Radha, a mais ilustre das pastoras, preferida de Sri Krishna, tornou-se aparentemente assaz egoísta. Quando as outras pastoras se queixaram dela, aconselhou-as Krishna que a interpelassem.
— Claro que possuo um ego, disse Radha. — Mas, de quem é esse ego? Meu é que não é, pois tudo o que tenho é de Krishna!
Aquele que entrega tudo a Deus, não possui um ego, no sentido comum. Nem consegue ser vaidoso ou orgulhoso. Tem profunda fé no Eu verdadeiro de seu interior, o qual se torna um com Deus.
......

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