sexta-feira, 15 de abril de 2011

O Amor por Vera Pinheiro

O amor, quando chega, não rompe barreiras, ele as contorna. Não arromba portas, abre-as delicadamente. Não grita, sussurra. Não põe abaixo todas as reservas do coração, ele as retira ternamente. Não devasta a alma, ele a ilumina. Tira as dificuldades com a ternura de quem remove espinhos de uma rosa bonita. Chega com a mansidão de que é feito, por isso não arrasa as nossas emoções. Não maltrata nem ironiza as nossas dores, ele as compreende e cura. Afasta os medos com a coragem de que se reveste.


O amor é gentil, não tem vaidades exacerbadas nem orgulho. Não bate, ampara. Não crispa a face, o seu olhar é sempre suave. É simples e grandioso na sua essência. Vem sem pressa, porque sabe a hora de chegar. Vem para ficar, porque o seu destino é de permanência. Não ilude, ele é todo a sua verdade. Não se importa ao saber do nosso lado feio nem ao conhecer a face escura do nosso ser, ele sempre entende os nossos opostos e nos aceita do jeito que somos. Não busca apenas o nosso melhor, compreende a nossa porção menos encantadora. O amor gosta de nós do jeito que somos e, por isso, podemos ser inteiramente nós mesmos diante dele, sem disfarces nem mentiras. Para o amor, não precisamos ser bonitos nem perfeitos; nós podemos ser exatamente como somos quando nos deparamos com a iluminada face do amor. Não importam as histórias que vivemos, pois o amor não se prende ao passado, ele paira sobre a eternidade. Não se preocupa em ser o primeiro nem o último, ele é o eterno sentimento, por isso, é confiante. Com ele, não há antes nem agora, tudo é sempre, desde sempre e para sempre, um tempo sem medidas.


O amor é um toque delicado sobre as nossas vidas. É uma brisa suave como as das manhãs de primavera. É acolhedor como fogo de lareira em dias de outono. É alegre como um dia de verão. É um agasalho feito na medida para o tempo do nosso inverno. No amor cabem todas as estações. Ele não tem estágios, não se mede pelo curso das horas. Ele tem o seu calendário próprio, por isso chega ao seu tempo, não quando nós queremos nem quando ansiamos por ele. Bate à nossa porta e espera que atendamos, e que não estejamos por demais ocupados ou desiludidos. Tem o som de um sino que anuncia momentos de prosperidade e alegria, não é uma campainha ensurdecedora e irritante. É um sussurro, não um grito. É um convite, não uma imposição. O amor é uma dança dos sentidos que nos convida a bailar entre afagos do coração e nos embala em canções de afeto. O amor é antigo e jovem, não tem idade nem hora para começar. Ele não acaba, transita pelo infinito, caminha lentamente sobre os anos que passam. Vem e fica, não vai embora, não solta a nossa mão mesmo quando não sabemos que ele está conosco, silencioso e solidário com o que vivemos. Ele apenas se mostra quando nos dispomos a olhar para ele. Não força passagem, ele abre a vida do lado de dentro do coração em que consegue entrar.


O amor não é apressado, não se impacienta com distâncias nem com demoras. Tudo sempre está em tempo de viver e ele vem no momento em que encontra o nosso coração em paz. Porque o amor é paz, é serenidade, é essa leveza que conquista a alma e a leva para passear num jardim florido, longe dos burburinhos, da sofreguidão, da ansiedade. O amor não é ansioso. Sabe esperar que resolvamos as nossas dores para depois chegar. E o faz tão ternamente que muitas vezes não o percebemos, embora ele se anuncie. É, então, como uma visita que bate à porta e não reconhecemos. Perguntamos quem é e o que quer, mas ele não responde, permanece diante de nós, soprando carícia para o coração e pedindo para entrar, se convidado for. Nunca entra de repente, espera um convite. Não invade, quer ser aceito nas nossas emoções. Poderia entrar de súbito nas nossas vidas, mas espera que estendamos a mão e quer sempre, primeiro, o nosso olhar.


O amor é tão forte que não precisa se mostrar. A sua fortaleza é oculta, está num lugar encoberto de brumas e luares. Não precisa esbravejar para ser ouvido, ele tem fala mansa como a de um ser divino. E divino o amor é. Porque tocado dessa divinal beleza, o amor é sempre belo, não importa a aparência que ele tenha. É bonito, sensual, encantador. Descortina o nosso olhar para o que ainda não tínhamos visto e abre os nossos sentidos para o que ainda não foi vivido. Tem o toque delicado de um piano que ecoa sonatas ao luar. Tem toda a ternura de que a vida precisa. Move-se entre silêncios e sussurros para, vagarosamente, nos acordar da solidão. E, quando chega, é como se a vida nos recompensasse de todas as dores, de todas as esperas e de todos os vazios que atravessamos, pois ele nos preenche, encanta e traz muito bem. Tanto bem que valem todas as penas que vivemos antes desse amor bonito e feliz, que chega para colorir a vida, para dar sentido a tudo, e para mostrar o que é a plenitude do ser.

Autora: Vera Pinheiro

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