sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

A Compaixão cura

Há vários anos, em Seattle, Washington, vivia um refugiado tibetano de 52 anos de idade. “Tenzin” era portador de um linfoma fácil de curar. Ele foi internado e começou a quimioterapia. Mas, durante o tratamento, este homem normalmente gentil, tornou-se agressivo e irritado; arrancou a agulha intravenosa de seu braço e negou-se a cooperar. Gritou com as enfermeiras, discutiu com todos. Os médicos e enfermeiros ficaram desconcertados. Depois, a esposa de Tenzin falou com o pessoal do hospital. Ela contou que Tenzin foi um prisioneiro político dos chineses por 17 anos. Eles mataram sua primeira esposa e ele foi repetidamente torturado e brutalizado durante todo o tempo em que esteve preso. As normas e regulamentos do hospital, juntamente com a quimioterapia, fez Tenzin recordar todo o sofrimento que passou nas mãos dos chineses. Eu sei que vocês querem ajudá-lo, ela disse, mas ele se sente torturado pelo tratamento. Ele faz com que ele sinta ódio internamente – da mesma maneira que os chineses fizeram ele sentir.

Ele prefere morrer do que viver com o ódio. Segundo nossas crenças, é muito ruim ter ódio no coração na hora da morte. Ele precisa estar apto para rezar e limpar seu coração. Assim, o médico dispensou Tenzin e recomendou uma equipe da clínica de repouso para visitá-lo em casa. Eu era a enfermeira encarregada de cuidar dele. Entrei em contato com um representante da “Anistia Internacional” para pedir-lhe conselhos. Ele me disse que a única forma de sanar o trauma da tortura era falar a respeito. Esse paciente perdeu a confiança na humanidade e sente que a esperança é impossível. Mas quando eu encoragei Tenzin a falar sobre suas experiências, ele ergueu suas mãos e me fez parar. Ele disse: Eu preciso aprender a amar de novo se eu quiser curar minha alma. Sua tarefa não é fazer perguntas e sim me ensinar a amar novamente. Respirei profundamente e perguntei: E como eu posso fazê-lo amar de novo? Tenzin respondeu prontamente: Sente-se, tome meu chá e coma meus biscoitos. O chá tibetano é um chá preto forte, coberto com manteiga de iaque e sal. Não é fácil de bebê-lo! Mas, foi o que eu fiz. Por várias semanas, Tenzin, sua mulher e eu nos sentamos juntos e tomamos chá.

Conversei com os médicos para achar formas de tratar suas dores físicas, mas era sua dor espiritual que deveria ser diminuída. Cada vez que eu chegava, via Tenzin sentado de pernas cruzadas em sua cama, recitando preces de seus livros. Na chegada da primavera, eu perguntei o que os tibetanos faziam quando estavam doentes na primavera. Ele abriu um grande sorriso e disse: Nós nos sentamos e aspiramos o vento que sopra pelas flores. Eu pensei que ele estava falando poeticamente, mas suas palavras eram literais. Ele explicou que os tibetanos fazem isso para serem pulverizados com o pólen das novas floradas, carregadas pela brisa. Eles acreditam que esse pólen é um potente medicamento. No primeiro momento, achar muitas floradas parecia um pouco difícil. Mas, um amigo sugeriu que Tenzin visitasse algumas floriculturas locais. Eu liguei para o gerente de uma floricultura e expliquei-lhe a situação. Sua reação inicial foi: Você quer o quê??? Mas quando eu expliquei melhor o meu pedido, ele concordou. Então, no final de semana seguinte, eu busquei Tenzin, sua esposa e suas provisões para a tarde: chá preto, manteiga, sal, chícaras, biscoitos, almofadas e livros de preces. Eu os deixei na floricultura e combinei de pegá-los às 17 horas. No outro final de semana, visitamos uma outra floricultura. E mais outra no terceiro fim de semana.
Na quarta semana, eu comecei a receber convites das floriculturas para Tenzin e sua mulher para voltarem novamente. Um dos gerentes disse: Nós temos uma nova remessa de nicotianas e lindas fuchsias… ah, sim! E temos belas dafnias. Eu sei que eles vão adorar o perfume das dafnias! E eu quase me esqueci! Temos uns novos bancos de jardim que Tenzin e sua esposa vão adorar! No mesmo dia, outra floricultura ligou dizendo que eles tinham recebido birutas coloridas para Tenzin saber de que direção o vento estava soprando. Logo, as floriculturas estavam competindo pelas visitas de Tenzin. As pessoas começaram a se importar com o casal tibetano. Os empregados arrumavam os móveis de frente para o vento. Outros traziam água quente para o chá. Alguns fregueses regulares deixavam seus carrinhos de compras próximos do casal. E no final do verão, Tenzin voltou ao seu médico para novos exames e determinar o desenvolvimento da doença. Mas o doutor não achou nenhuma evidência de câncer. Ele estava abobalhado; disse a Tenzin que ele simplesmente não sabia explicar aquilo.
Tenzin levantou seu dedo e disse: Eu sei porque o câncer se foi. Ele não podia mais viver num corpo tão cheio de amor. Quando eu comecei a sentir a compaixão das pessoas da clínica, dos empregados das floriculturas, e todas essas pessoas que queriam saber de mim, eu comecei a mudar por dentro. Agora, eu me sinto afortunado por ter a oportunidade de ser curado dessa forma. Doutor, por favor, não acredite que a sua medicina é a única cura. A compaixão pode também curar um câncer. (Uma História Tibetana De Cura por Lee Paton em 11/05/2001)
 
A Compaixão é a chave indispensável para abrir todas as portas, mas os seres humanos a perderam há muito tempo! Ter compaixão não é afundar junto com o outro, porém, amá-lo o suficiente para saber o que ele sente, sem tentar julgar e nem precisar entender. Compreender o outro é sentir o que ele sente sem misturar suas emoções com as nossas. Para praticar a compaixão, os essênios “respiravam” no ritmo do ser que sofre, pois, sabiam que poderiam, dessa forma, pouco a pouco, identificar-se com ele e, sem adquirir o seu mal, vivê-lo interiormente. Jesus curava através da compaixão. Ele, sem que as pessoas percebessem fazia com que suas vidas retrocedessem curando os episódios traumatizantes. Os seres humanos gravam na memória celular os acontecimentos dolorosos e esses passam a dominar seus corações. Depende de nós termos consciência das situações que necessitam de nossa atenção e curá-las. Nossa mente só atua de forma curativa, quando mudamos nossas percepções. Não se consegue ensinar aquilo que não acreditamos ou não praticamos; assim, a melhor forma é amor, é perdão e perdão é compaixão.

Muita coisa em nossa vida só curamos pelo poder da compaixão alheia. Psicólogos e psiquiatras curam até certo ponto, trazendo à consciência pontos fracos e vulneráveis, porém só a compaixão, o perdão e o amor removem as cicatrizes e penetram nossas sombras, curando as recordações dolorosas do passado. Uma pessoa sofrida, depressiva, precisa acreditar que a vida vale a pena, que existem homens com valores humanos suficientes para lhes dar motivação. Não existem tratamentos que ajudem a pessoa a superar seu estado, quando ela entra numa situação difícil do passado, sem um acolhimento carinhoso. Quando tratamos o outro com compaixão, sentimos uma calma que não pode ser atrapalhada, aquecemos nosso coração, sentimos um conforto profundo e um descanso tão perfeito que nunca poderão ser perturbados.
VERA GODOY
 postado em "Portal Arco Iris" 

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