quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Atravessando o Portal do Tempo XIV

XIV   Nada podes ensinar a um homem.  Podes somente ajudá-lo a descobrir as coisas que tem dentro de si mesmo”.
                                 Galileu Galilei

Quando chegou ao espaço ocupado pelo grupo, o pessoal já estava lá.
Lúcia veio recebê-la com a alegria que a caracteriza e apresentou-a ao grupo. João e Marta a trataram com muito carinho, deixando-a à vontade.
Depois de alguns minutos, estavam todos sentados sobre grandes almofadões em uma sala lateral. Clara foi convidada a sentar-se entre Lúcia e Marta.  Dali podia ver na parede em frente, as “fotos”  dos  Mestres Jesus, Kuthumi e El Morya e Lanto,  como Lúcia havia cochichado ao seu ouvido.

Marta começou a falar, ensinando o Arcano que era o assunto do dia. Depois  perguntou se alguém queria falar sobre sua  experiência com a carta estudada na semana anterior e abriu espaço para tirarem dúvidas. A seguir, sugeriu que todos embaralhassem as cartas e tirassem uma, perguntando ao seu Mental Superior qual a mensagem para a semana. Logo todos discutiam o significado dessa mensagem para cada um.
A carta tirada por  Clara foi a Imperatriz. Sentiu-se sem graça com o sorriso que viu nos  olhares dos dois irmãos.
Clara olhava a interação das pessoas. Pareciam amigos com um mesmo objetivo, o desenvolvimento: aprender e crescer. Logo, já se sentia como se sempre tivesse feito parte desse grupo de pessoas que a olhavam com tanto carinho.
O estudo demorou aproximadamente uma hora, e quando terminou todos sentaram de forma mais confortável  nas almofadas e o ambiente foi ficando em absoluto silêncio. Com os olhos fechados  ouviam o som baixo de  mantras que agora enchia a sala e facilitava o estado de concentração.

 Agora era João Carlos que falava:
Vamos respirar tranqüilamente....suavemente...vamos procurar diminuir os  batimentos cardíacos e o movimento respiratório.... Enquanto respiramos....num ritmo calmo e tranqüilo....vamos imaginar...visualizar uma Luz azul que chega até nós e penetra em nosso  chacra coronário....a Luz desce para  frontal, para o laríngeo, cardíaco....plexus solar e daí... para os chacras inferiores.....A luz azul ilumina o  sistema energético e o físico....a aura...Limpa a mente e relaxa o corpo.....traz uma sensação de bem estar, de paz......
Clara mal podia ouvir a voz do amigo. Estava se afastando dali. Parecia flutuar enquanto seguia a orientação que ele dava ao grupo.
Já não percebia mais nada, estava indo para longe, muito longe dali....mas não  estava sozinha. Havia mais alguém com ela.
Diante dela o Irmão a olhava amorosamente. Estendeu-lhe as mãos que Clara segurou com carinho.
Só então ela reparou nas vestes do seu amigo espiritual. Ele estava vestido de forma rica e bela. Roupas de uma espécie de tecido luminoso.  Não, nunca havia visto nada assim. A sua aura era de pura Luz e Esplendor. O dourado das roupas iluminava todo o espaço que ocupavam.  Segurando sua mão, o Irmão a levou até um lugar no alto de uma montanha. Uma construção majestosa, parecendo um templo antigo.  Ao entrar  viu-se num grande salão e imediatamente, os olhos  de Clara se voltaram para o teto.  Era em forma de cúpula e todo em vitrais que irradiavam cores e luz como jamais vira.
Clara pensou que estava no céu. Era a única explicação para tanta beleza. No centro de uma das paredes exageradamente  altas,  uma estrela de seis pontas de um  tom mais dourado, quase alaranjado. Parecia ter sido feita com os mais puros e brilhantes cristais.  Na outra, viu um símbolo que parecia representar  o   sol e a lua integrados ou interlaçados. Na terceira parede um grande triângulo em cor violeta, parecendo feito de ametistas do tom mais lindo que já havia visto.
Em frente a eles, uma mesa enorme, como se ali fossem realizadas reuniões ou qualquer coisa semelhante. As cadeiras eram grandes e mais pareciam  uma espécie de trono. Muitas colunas num estilo gótico pareciam sustentar o teto em forma de cúpula.  Não restava dúvida, ela não estava na Terra. Tanta beleza,  luz e cor não podiam ser de matéria, tinham que ser constituídas da mais pura energia.

“Aqui nos reunimos para avaliar a evolução da humanidade e tomar algumas  decisões a respeito da melhor maneira de ajudar os homens a atravessar  este  tempo de transição que estão vivendo. Saibam que nunca a Humanidade necessitou tanto de apoio como agora,  que a Terra está atingindo o tempo da Ascensão  para  outra Dimensão  além do tempo e do espaço.  Muitos estão vivendo o momento do despertar e estamos aqui para dar-lhes as mãos e guiá-los até  Pai pelo caminho da Luz,  do Amor e da Verdade, sem os quais  há evolução possível”.
“Chegou o tempo em que o Homem se prepara para deixar a terceira Dimensão, que limita sua capacidade de perceber e compreender e onde  ele está preso às dualidades ou polaridades. Na Terra, cada coisa  tem seu oposto: a luz e a escuridão, o bem e o mal, o bonito e o feio, o certo e o errado e daí por diante..... A mente do homem é uma espécie de laboratório que elabora conceitos e  busca explicações pela razão. Assim o Homem conhece o mundo em que vive: Através da combinação de palavras e conceitos.  Aproxima-se a hora de expandir as fronteiras que ele mesmo se impôs,  romper os limites que o impede de alçar o grande vôo”.
“Mas esse Homem só poderá  voar quando  se libertar de suas crenças limitadoras e deixar que a voz do coração substitua  a razão.
O   Amor está além da razão e é o único caminho para Planos mais sutis. E só através do Amor, ele chega ao auto-conhecimento, à Sabedoria Divina”.
“Ao transitar da  terceira para  a quarta Dimensão, e vencer os limites da matéria, o Homem liberta-se das dores e sofrimentos. Então ele pode  conhecer a Sua Presença Divina que se manifesta a partir da Quarta Dimensão. Ali pode também encontrar a Presença dos Guias, dos Mestres e  Seres Superiores. Mas repito, é preciso fazer mudanças. Primeiramente internas e individuais e depois externas, a nível de humanidade. A evolução do Planeta deve partir do  individual ou particular. Se cada  um faz a sua parte, se responsabilizando por si e seus atos, logo todo o Planeta está em condições de ascender a um Plano ou esfera superior”.
“Algumas consciências Cósmicas que se  aproximam da Terra para estar com vocês, precisam antes despir-se de sua energia sutil, porque  os humanos   estão num nível energético muito denso. Elas estão aqui com um objetivo.  Servir de apoio e estímulo. Vocês podem ouvir no coração as suas vozes dizendo “Vai , você pode vencer mais este obstáculo, vai, Eu sei que você consegue. Acredite na sua força interior, no seu Poder pessoal”.
“Este movimento acontece de dentro para fora e não ao contrário, como muitos pensam. Depende do próprio homem acelerar o seu processo de evolução ou ficar indefinidamente estagnado, esperando que os Anjos façam isso por ele. Os Mensageiros do Pai estão à disposição daqueles que são buscadores, que  querem ir  além, dar o salto quântico evolutivo. Os que querem fazer parte da  Grande Obra, do Grande Projeto. Coparticipar da Ascensão”.

“É tempo do Homem enfrentar- se. Perguntar a si mesmo:
Preciso mesmo passar por tanto sofrimento e dor para aprender?
É necessário vivenciar doenças, miséria, perdas para evoluir?
É possível  evoluir pelo Amor ao próximo e pela caridade?
A minha verdade é a Verdade?
Posso despertar e ver    a Luz Suprema?
Posso viver entre os Seres da Realidade Superior?
O que posso aprender com os exemplos vivos dos que vieram antes de mim?
Estou manifestando o Amor do Pai que vive em mim?
O que me impede de avançar para Planos Superiores?
Quais são os meus reais limites?
De que forma posso abrir mão das minhas fronteiras e seguir adiante?
Em que na verdade eu acredito?
Onde está o meu poder, na matéria ou no Espírito”?

“Essas respostas estão dentro do Homem. Ninguém pode responder por ele. Nem os Guias. Filhos, o Homem parece não compreender a difícil tarefa dos Guias e Mestres. Eles estão agora, em grupo,  na Terra para ajudar a Humanidade a ascender e assim, levar a Terra à ascensão.
Muitos vieram antes, mas parece que o Homem tem dificuldade para lembrar dos ensinamentos deixados pelo Amado Jesus, por Francisco de Assis, do Amado Saint Germain que encarnou entre vós como São José e Merlim,  o amigo de Rei Artur...Este ainda  hoje trabalha a  serviço da  humanidade  como o Amado Morya....E Maria, os Reis Magos....todos Seres de alta Hierarquia das Esferas de Luz” que vos querem tanto bem!
“Infelizmente o tempo apaga a memória e os conhecimentos que esses Enviados do Pai vos deixaram.      E vemos que os homens,  ainda hoje, estão voltados apenas para a conquista de  bens materiais a qualquer custo, mergulhando no materialismo e nos prazeres terrenos. O desequilíbrio e o caos são a consequência da escolha que fazem. É necessário  o despertar, por isso estamos entre vocês.  Para ensinar o caminho da integração entre a matéria e o Espírito. A mente e o corpo físico, sem radicalizar, nem abrir mão de nenhum dos aspectos. Sabemos  a importância do equilíbrio entre os extremos, as polaridades. Queremos lembrar-vos que o equilíbrio está no caminho do meio,  como nos ensinou o Amado Mestre Lao Tsé. O Homem é um Espírito encarnado na matéria e não o contrário, como pensam muitos de vocês. Lembrem-se de ensinar que nenhuma polaridade deve ser priorizada, nem pode dominar sobre a outra. A harmonia  entre as partes, deve prevalecer sempre.”.

Clara ouvia tudo com atenção, parecia telepatia. As palavras do Irmão tocavam-lhe o coração e à medida que Ele  falava, ia sentindo-se mais leve, como se flutuasse pelo céu em uma nuvem muito suave. Entendia  perfeitamente o que Ele estava  ensinando. Sabia que precisaria fazer algo com todas as informações e conhecimentos que adquiria, por isso prestava o máximo de atenção.  Não podia perder nenhuma palavra, esquecer nada. Estava feliz e agradecida por Ele estar ali dedicando Seu tempo a ela.

   “Quero que trabalhem com o Poder da Chama Trina que  representa o Pai, o Filho e o Espírito Santo. É formada pelos Raios de três Amados Mestres da Hierarquia:  O Amado El Morya, O Querido Mestre Confúcio e a Bem Amada Mestra Rowena.  São as Benditas Chamas  Azul, do Poder Divino; a Dourada da Iluminação e Sabedoria e a Rosa, do Amor Divino.”
“Mentalizem diariamente essas chamas  e ficarão surpresos ao perceberem tanta   Luz, ao redor.  Agora deixem que coloque em seu coração e no chacra frontal,  a Estrela Dourada,  que é o nosso sinal”.
O Irmão se aproximou mais de Clara e com a mão traçou uma Estrela sobre  o coração e sobre a testa. A sensação sentida foi de radiante felicidade e paz interior. Agora tinha a marca do seu Mestre!

 Quando abriu os olhos, viu Marta à sua frente, observando-a com um olhar muito amoroso. Estavam sozinhas. Quanto tempo se passou?
- O grupo está na outra sala, preparando-se para  o trabalho de irradiação para o Planeta. Querida, você está bem?
-          Sim. Você viu o que eu vi?
- Em meditação, vi o seu Mentor chegar e se aproximar de você.  Percebi quando você  entrou  em estado alterado e a vi saindo.  Fiquei atenta para o caso de  ao voltar, despertar assustada.
Algumas pessoas voltam de estados de meditação de forma brusca e com o ritmo cardíaco acelerado... Às vezes acontece de precisarem de ajuda para se religar ao corpo físico.
-          Não sei como aconteceu, mas estou bem.
-          Pode nos acompanhar no trabalho da mesa?
Quando se levantou, Clara ameaçou cair, suas pernas ainda estavam dormentes e  o corpo mole... Marta parecia esperar por isso. Logo estava ao seu lado, dando-lhe apoio para caminhar até a outra sala.

Todo estavam sentados à mesa. Sentou-se na cadeira que Marta lhe indicou enquanto  as pessoas continuavam de olhos fechados, parecendo estar em   oração ou meditação. Menos João Carlos e Lúcia que sorriram com carinho quando a viram entrar. Pareciam esperar por ela, talvez estivessem preocupados com sua demora a sair do estado de meditação.    Mas o que João queria dizer-lhe com aquele olhar?
Reconheceu a  foto dos  Mestre Lanto e El Morya, iguais às que tinha  visto no livro de Marta, que estavam na parede em frente à sua cadeira.
Viu João Carlos, sentado  à cabeceira da mesa e Marta à esquerda dele.  Cerrou os olhos para orar, tinha tanto a agradecer! Quantas bênçãos estava recebendo.
A energia ali era imensa. Podia sentir como se uma luz pairasse acima das cabeças das pessoas. Com os olhos semicerrados “via” a luz que preenchia o ambiente e envolvia cada um que estava à mesa participando dos trabalhos.
Cada um parecia estar mergulhado em um determinado campo de  luz, de cor diferente. A sala parecia um arco íris de luz e cores brilhantes. Lembrou-se que Lúcia havia comentado que cada membro pertencia a um raio da Luz Cósmica.
Houve um tempo que a amiga estudava as cores e raios com esse objetivo, descobrir a qual raio pertencia. Cada cor está associada a um raio e a um temperamento.
Lúcia às vezes perguntava-lhe coisas dela mesmo, querendo confirmar suas próprias características. É provavelmente, era isso. Aquelas cores e luzes diferentes eram porque cada um ali, vibra num determinado raio.
Olhou na direção de João Carlos e pode  ver que o amigo estava imerso numa luz belíssima. O tom  mais belo do azul azul. Brilhante, aceso.. A luz parecia não só envolvê-lo, como também atravessar todo o seu corpo internamente.  Que imagem! Jamais esqueceria o que via.
Poder viver  essa situação, pertencer a um grupo de tanta  beleza, é receber uma  graça. – pensou Clara enquanto dirigiu o olhar para Marta, e viu que a luz que a rodeava parecia o sol iluminando o ambiente. O raio dourado brilhava permeando o corpo de Marta e acendendo a sua aura. Olhou para a amiga Lúcia e viu todo o seu corpo envolto em uma luz rosa muito linda. Um rosa suave e doce.  Fechou os olhos e agradeceu por estar ali. 
Depois de algum tempo, o suficiente para que todos  pudessem se comunicar com o Alto,  João Carlos deu um leve toque no  sino tibetano. Logo todos recitavam a afirmação do Mestre que, do Plano Espiritual,  dirigia os trabalhos da casa.
Clara percebia na voz das pessoas, sua emoção  e a fé no Diretor Espiritual da casa a que pertenciam.

“Em nome do Todo  Poderoso,
Eu me levanto para desafiar a noite,
Para erguer a Luz,
Para ser um foco da consciência de Gautama Buda!
EU SOU a chama do Lótus de mil pétalas.
E venho levá-la em seu nome.
Firme na vida nesta hora estou de pé,
Empunhando o Cetro de Crístico Poder!
Para lutar contra as trevas,
Para fazer brilhar a luz,
Para trazer de alturas estelares,
A consciência de anjos,
Mestres, Elohim, centros solares,
E de toda vida,
Que é a Presença do EU SOU de cada um.
Reivindico a Vitória em nome de Deus!
Reivindico a Luz da chama solar,
Reivindico a Luz!
EEU SOU a Luz!
EU SOU a vitória! EU SOU a vitória!
EU SOU a vitória!
Da Mãe divina e da Divina Criança,
E  a vitória que exalta a coroa da vida
E  os doze focos estelares
Que se regozijam de ver a salvação do Deus
Bem dentro da minha coroa,
Em pleno centro do Sol de Alfa!
Está feito!”

Enquanto Clara ouvia as palavras ditadas pelo Amado Mestre Lanto, seu rosto ficava molhado pelas  lágrimas que  rolavam dos seus olhos. Era impossível deixar de se emocionar com tanta beleza.
Depois de mais alguns  minutos em silêncio, João Carlos continuou:

Salve a Grande Hierarquia do Amor Universal,
Salve a Grande Fraternidade Branca! Salve a  Luz Divina!
Salve os Bem Amados Sanat Kumara e Gautama  Buda,
Em nome do Cristo Cósmico, Senhor Maitreya,
Em nome  de  Jesus, o amado Cristo e do Mestre Kuthumi, os Instrutores do mundo,  e do Amado Maha Chohan...
Em nome dos  Bem Amados Lanto e El Morya, nossos Mestres ,
Invocamos a Grande Fraternidade Branca!
Mestres Ascensionados, Senhores das Chamas e do Amor Divino:
El Morya, Confúcio, Rowena, Serapis Bey, Hilarion e Palas Atena, Nada, Saint Germain e Portia. E pedimos a misericórdia  do Conselho Cármico para os homens e o Planeta.
Invocamos os Sete Poderosos Arcanjos e suas Legiões de Anjos, os Elohim, Serafins, Querubins e todo Reino Dévico e forças da Natureza!
Que a Luz, o Amor e a Paz desça sobre toda a humanidade, sobre a   Terra,  sobre o Brasil e sobre nós, para que possamos manifestar a cada dia, o Amor Crístico e a nossa Divina Presença do Eu Sou.
Ao final dos apelos, Marta pediu que cada um visualizasse a Terra sendo envolvida por uma aura de luz e paz, e conduziu a chamada de cada raio. O Raio azul, Raio amarelo dourado, Raio rosa, Raio branco, Raio verde, Raio rubi e Raio violeta.

Clara sentia as mãos aquecendo e a energia sendo irradiada à medida que Marta ia falando. Sentiu-se grata por estar ali participando daquele ato de amor à Terra e aos homens. E arrependida por haver perdido tanto tempo.
 Quando terminaram, todos pareciam estar em estado de graça.
Clara sentia-se assim. Foi até onde estava sua amiga Lúcia e a beijou.
- Não tenho palavras para descrever o que estou sentindo. Obrigada!
- Que bom que gostou. Sabia que se viesse conhecer, ia gostar. Afinal te conheço! Sabia que ia sentir o que eu mesma sinto.
João Carlos veio lá de dentro e olhou Clara de um jeito especial.
-          Como está?
- Bem! Muito bem. Só preciso ir para casa para colocar as idéias em ordem. Ficar sozinha...tenho tanto para pensar...
-   Está dizendo que quer ficar só.  É isso?
 - As experiências que pude viver aqui, as emoções....é muita coisa.  Preciso tempo para ordenar tudo.
Falou sorrindo, como se quisesse se desculpar...
-          João, é tudo tão lindo!
- Realmente, é tudo muito bonito e  muito sério. Mas pensei que podíamos sair para almoçar. Talvez você quisesse conversar a respeito...mas não quero invadir o seu espaço, de forma alguma.
Clara foi salva por Lúcia que chegou convidando-a para almoçar.
-          Obrigada, amiga! Mas hoje quero ficar sozinha. Preciso pensar.
- Imagino que tua cabeça deve estar um caos. Fiquei assim na primeira vez que vim até aqui. Lembra-se João? Pedi sua ajuda para colocar tudo em ordem. Então aproveito para visitar minha mãe. Tchau!
Já no carro ainda viu João e Marta saindo.  Não tivera oportunidade de conversar com Marta depois do trabalho. Estava cercada pelo grupo e não queria perturbar a conversa. Acenou para ela e saiu.
E não conversou com  Lúcia sobre o curso.
Precisava muito pensar. Decidiu ir até a praia e caminhar um pouco. Faltava alguma coisa para fechar. Precisava encontrar o detalhe que faltava,  lembrar de tudo, para compreender melhor o que acontecera na saída com o Mestre. A energia do mar iria fazer-lhe bem. Não sentia fome, podia dispensar o almoço.... preferia pensar.

A praia estava cheia. Muitas crianças brincando e barracas coloridas.
Andou pelo calçadão, vendo o mar e as ondas suaves se desfazendo na areia.
Já havia caminhado um bom tempo quando   o celular tocou. Tomara que não fosse um cliente! Pensou em não atender, mas se fosse urgente?
-          Clara! Onde está? Liguei para casa e não atendeu...Está bem?
Era João Carlos.
- Estou caminhando pela praia. Resolvi andar. Me ajuda a pensar.
-          E aí? Pensou?
-          Estou pensando. São muitas emoções para um só dia.
-  Clara, Preciso falar com você. Não gostaria de ser invasivo, mas é importante.  Quando puder conversar me liga? Estou na casa de Marta.
-  Você é meu amigo, nunca vou considerá-lo  invasivo. Não quer vir até aqui? Podemos andar e conversar. Já sei! Convido-o para almoçar. aceita?
Pronto! Estava feito. Ela vinha evitando encontros e conversas particulares...mas não queria que ele pensasse que ela rejeitava a sua companhia. Não tinha justificativas para continuar recusando seus convites. Poderia   parecer que estava  fugindo dele.
João Carlos chegou sorrindo. Foi logo dizendo:
- Pensei que não queria mais conversar comigo. Fiz alguma coisa que te incomodou? Se fiz, me perdoa, foi sem intenção.....
            Clara pensou no que ele fez. Sorriu daquele jeito tão especial. E agora, quando fecha os olhos,  ela  vê aquele sorriso diante dela. Foi o que ele fez! Abalou a sua estrutura emocional.
-          Claro que não. De onde tirou essa idéia?
- O seu comportamento. Reparou que está me evitando? Pensei que  já havia te conquistado!
Clara não sabia o que responder. O que ele queria dizer com isso?
-          Não entendi, João.
-          Pensei que éramos amigos...
-          E não somos?
-          Amigos não se esquivam de conversar, não fogem...    
-          Você não entendeu, não é nada disso!
 Clara se aproximou de João e  o abraçou sorrindo.
- Meu querido amigo está carente!
 A situação estava ficando complicada para Clara. Temia que ele percebesse o que se passava no seu coração. Isso não podia acontecer.
-          Você disse que precisava conversar....
- É verdade. Mas aqui na rua não é o lugar mais adequado. Não gostaria de ser interrompido. É uma conversa séria.
-          Convidei você para almoçar. Onde  podemos almoçar tranquilos?
 - Clara, quero falar do que aconteceu hoje, durante a meditação. Não gostaria de conversar sobre isso em lugar público. Alguém pode chegar e nos interromper....
-          Onde quer ir? Não estou entendendo.
-          Na minha ou na sua casa. Você escolhe.
-  Não tenho nada pronto, só se passarmos em algum lugar para comprar.
            - Minha empregada costuma deixar o almoço pronto. Se não se importa, podemos ir até minha casa. Se não se incomodar, claro!
 Clara perdeu a fala. E agora, o  que fazer? Que responder? Não podia recusar o convite, não queria  parecer uma adolescente insegura.
João Carlos segurou suas  as mãos e olhando-a nos olhos falou carinhosamente:
- Você não está preocupada com meu convite. Não pode pensar que eu.... Por favor, Clara, eu não seria capaz de magoá-la.
E agora? Os pensamentos voavam.
-          Claro,  você é um amigo querido. Vamos.
João sorriu e colocou o braço sobre o seu ombro. Dirigiram-se para o carro de Clara  que estava pouco distante.
 - Importa-se  de deixar o carro em casa e seguir no meu? Depois trago  você, não se preocupe.
Clara sorriu aceitando a proposta. Não, não se importava de ficar mais tempo na sua companhia. 

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