terça-feira, 10 de junho de 2014

Os Outros

Dizes trazer o deserto no coração; entretanto, pensa nos outros.

Muitos pisam teus rastros, procurando-te as mãos no grande vazio...

Pára um pouco e perceberá a presença nas sombras da retaguarda.

Enquanto gritas a própria solidão, compreenderás que a voz deles está
morrendo na garganta, através de longos gemidos.

Volta-te e vê.

Compara os teus braços robustos com os ossos descarnados que ainda lhe
servem de suporte às mãos tristes em que os dedos mirrados são espinhos
de dor. Enxuga o teu pranto e observa os olhos fatigados que te
contemplam... Falam-te a história de esperanças e sonhos que o tempo
soterrou na areia da frustração. Referem-se ao frio cortante do lar
perdido e à agonia da ramagem nas trevas...

Pára e compadece-te.

Deixa que respirem, ainda mesmo por um momento só, no calor de teu hálito.

Quem poderá medir a extensão da grandeza de uma simples semente, caída
na terra que o arado martirizou?

A beleza de um minuto nos ensina, muita vez, a povoar de alegria e de
luz a existência inteira.

Diz antiga lenda que uma gota de chuva caiu sobre o oceano que a
tormenta encapelara e, aflita, perguntou:

- "Deus de Bondade, que farei, sozinha, neste abismo estarrecedor?"

O Pai não lhe respondeu, mas, tempos depois, a gota singela era retirada
do mar, convertida numa pérola para adornar a coroa de um rei.

Dá também algo de ti aos que bracejam no torvelinho do sofrimento, e,
mesmo que possas ofertar apenas um pingo de amor aos que padecem, tua
dádiva será filtrada pelas correntes da angústia humana e subirá,
cristalina e luminescente, na direção dos céus, para enfeitar a glória
de Deus./

*

Pelo Espírito Meimei - Do livro: O Espírito da Verdade, Médiuns:
Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira.*

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