domingo, 28 de setembro de 2014

A Alquimia Espiritual

Publicado por M. Manuela dos Santos Oliveira em 20 setembro 2014 às 18:56 em Omraam Mikhael Aïvanhov

Uma pessoa vem ter comigo, infeliz, desanimada, lamentando-se por não conseguir desembaraçar-se de certo vício que a atormenta.

Já tentou milhares de vezes, coitada!, mas sucumbiu sempre.
Então, eu digo-lhe: «Oh, isso é magnífico, é formidável! Isso prova que é muito forte!»

Ela olha para mim espantada, interrogando-se se eu estarei a fazer troça dela.
E eu continuo: «Não, não estou a fazer troça de si, só que você não vê a sua força. - Mas que força?

Eu sucumbo e acabo sempre por ser vencido; isso prova que sou fraco. - Não está a raciocinar correctamente.

Vou explicar-lhe como é que as coisas se passaram, e então compreenderá que eu não estou a brincar.
Quem é que formou esse vício?...
Você.
De início, ele não era maior que uma bola de neve que você podia segurar na palma da mão.

Mas, acrescentando sempre um pouco mais de neve, divertindo-se a empurrá-la, a fazê-la rolar, acabou por transformá-la numa montanha que agora lhe barra o caminho.

Na origem, o vício de que se queixa também não era mais do que um minúsculo pensamento, mas você cuidou dele, alimentou-o, "fê-lo rolar", e agora sente-se esmagado.

Pois bem, eu fico deslumbrado com a sua força.

Você é que formou esse vício, é o pai dele, ele é seu filho e tornou-se tão forte que você já não consegue deitá-lo por terra.
Porque é que não se alegra com isso?
Como?
Alegrar-me? - Já leu o livro de Gogol, "Tarass Boulba"?
Não.

Então vou contar-lhe uma história.

«Tarass Boulba era um velho cossaco que tinha mandado os seus dois filhos estudar no colégio de Kiev, onde estiveram três anos.

Quando regressaram a casa do pai, eram dois matulões.
Encantado por voltar a vê-los, Tarass Boulba, para brincar e também para manifestar a sua ternura paternal (como sabeis, os cossacos têm um modo muito sui géberis de manifestar o seu afecto!), começou por lhes dar algumas caroladas.
Os filhos é que não acharam graça e replicaram, acabando por deitar o pai ao chão.

Quando Tarass Boulba se levantou, um tanto dorido, não estava nada furioso, pelo contrário, estava orgulhoso por ter dado ao mundo filhos tão fortes.»
Então, porque é que você não fica tão orgulhoso como Tarass Boulba por ver que o seu filho o deitou ao chão?
Você é que é o pai, é que o alimentou e o reforçou com os seus pensamentos e os seus desejos; portanto, você é muito forte.

E agora vou dizer-lhe como pode vencê-lo.
O que é que faz um pai quando quer pôr na ordem um filho que faz loucuras?
Corta-lhe o sustento e, o filho, privado dele, é obrigado a reflectir e a mudar a sua conduta.

Então, porque é que você há-de continuar a alimentar o seu filho?
Para ele lhe fazer frente?
Trate-o com severidade!

Deve ficar a saber, que uma vez que lhe deu origem, tem poderes sobre ele.
Senão, irá lutar ou sofrer durante toda a vida, sem nunca encontrar os verdadeiros métodos para sair das suas dificuldades.
Infelizmente, são muito poucas as pessoas que conseguem encarar as coisas deste modo.

Elas lutam desesperadamente contra certas tendências perniciosas que nelas existem, sem se aperceberem de que, se chegaram ao ponto em que estão é porque são extraordinariamente fortes.
Quanto mais terrível é o inimigo em vós, mais isso prova que a vossa força é grande.
Sim, é nestes moldes que as pessoas têm de aprender a raciocinar.


Reparai como ficais tensos e quantas dificuldades encontrais quando lutais contra vós mesmos; trava-se em vós uma guerra terrível, e essa guerra lança-vos em toda a espécie de contradições.

Considerais que tudo o que é inferior em vós é necessariamente vosso inimigo e quereis matá-lo; mas esse inimigo é muito poderoso, pois desde há séculos que o reforçais pela guerra que travais com ele, e cada dia ele se torna mais ameaçador.
É verdade que há inimigos que vivem em nós, mas se são inimigos é sobretudo porque nós não somos bons alquimistas, capazes de tudo transformar.
O que disse S. Paulo?

«Cravaram-me um espinho na carne. Três vezes supliquei ao Senhor que o afastasse de mim, e Ele respondeu-me: - A minha graça é-te suficiente, pois a minha força manifesta-se na fraqueza.»
Aquele que possui uma fraqueza no corpo, no coração ou no intelecto, sente-se diminuído, mas está enganado, pois essa fraqueza pode ser para ele uma fonte de grandes riquezas.

Se todas as suas aspirações fossem satisfeitas, estagnaria.
Para evoluir, as pessoas têm de se sentir agrilhoadas, e é a sua imperfeição, esse espinho cravado na sua carne, que as obriga a trabalhar em profundidade, a aproximar-se do Céu, do Senhor.
O Céu deixa-nos certas fraquezas para nos fazer avançar no nosso trabalho espiritual, pois o que aparentemente é uma fraqueza, na realidade é uma virtude, uma força.

Há que pôr as fraquezas a trabalhar, para que se tornem úteis.
Vós ficais espantados e dizeis: «Mas deve-se espezinhar as fraquezas, deve-se aniquilá-las!»

Experimentai e vereis se é fácil: vós é que sereis aniquilados.
O problema é o mesmo para todas as formas de defeitos ou de vícios; seja a gula, a sensualidade, a violência, a cupidez ou a vaidade, deveis saber como mobilizá-las para que trabalhem convosco na direcção que escolhestes.
Se trabalhardes sozinhos não podereis ser bem sucedidos.
Se expulsardes todos os vossos inimigos, tudo aquilo que vos resiste, quem é que vos servirá?

Há animais selvagens que, à força de paciência, os humanos conseguiram domesticar e manter junto de si.
O cavalo era selvagem, o cão era semelhante ao lobo, e se o homem conseguiu domesticá-los foi porque soube desenvolver em si certas qualidades.
Ele poderia certamente domar e domesticar as feras, mas para isso teria de desenvolver outras qualidades.

Portanto, alegrai-vos: sois todos muito ricos porque todos tendes fraquezas!
Mas é indispensável saber utilizá-las para as fazer trabalhar.
Falei-vos há pouco dos animais, mas reparai também nas forças da natureza, como relâmpagos, a electricidade, o fogo, as torrentes...

Agora que sabe como dominá-las e servir-se delas, o homem enriquece.
No entanto, antes eram forças hostis.
Os homens acham que é normal utilizar as forças da natureza, mas se alguém lhes fala em utilizar o vento, as tempestades, as cascatas e os relâmpagos que neles existem, ficam muito espantados.

Porém, não há nada mais natural; e quando conhecerdes as regras da alquimia espiritual sabereis transformar e utilizar até os venenos que existem em vós.
Sim, pois o ódio, a cólera, a inveja, etc., são venenos; mas no Ensinamento da Fraternidade Branca Universal vós aprendereis a servir-vos deles, e até vos serão dados métodos para vos servirdes de todas as forças negativas que possuís em abundância.

Alegrai-vos, pois tendes boas perspectivas à vossa frente!


De futuro, aqueles que forem audaciosos debruçar-se-ão sobre as substâncias químicas da inveja, do ódio, do medo e da força sexual, e aprenderão a utilizá-las; até encherão frascos com elas, para as pôr na sua farmácia e as ter à disposição no dia em que delas tiverem necessidade.

Daqui para a frente tudo deve mudar na vossa mente.
Mas é óbvio que não deveis lançar-vos "à doida" sobre o mal para dele comer grandes nacos.

Em todas as criaturas, mesmo nas melhores, escondem-se sempre tendências infernais que vêm de um passado muito longínquo.
A questão está em não as fazer vir à tona de repente, com o pretexto de as utilizar.
Há que enviar uma sonda para retirar apenas alguns átomos, alguns electrões, e dirigi-los bem.
Não deveis ir lutar imprudentemente com o Inferno, pois ele é que vos destruirá.
Há que saber como agir.

Por isso deveis continuar a trabalhar com as forças do Alto - pela oração, pela harmonia, pelo amor - e, de tempos a tempos, quando alguma coisa sair das profundezas do vosso ser com garras, unhas e dentes para vos impelir a fazer algumas asneiras, capturai-a, estudai-a no vosso laboratório, fazei-a até segregar os seus venenos para poderdes utilizá-los: descobrireis que é precisamente o mal que vos dá o elemento que vos faltava para atingir a plenitude.

Mas - repito-o - atenção!
Não queirais agora descer, por causa do que vos disse, para imprudentemente medir forças com o mal.
Não digais: «Ah! Ah! Já compreendi; agora é que vamos ver!», pois talvez não volteis a subir.
Foi o que se passou com certas pessoas.
Julgavam que eram muito fortes, quando não estavam suficientemente ligadas ao bem, à luz, e agora, coitadas!, em que estado se encontram!
Todas as forças negativas as atacam e destroem.

Está escrito no Talmude que, no fim dos tempos, os Justos, quer dizer, os Iniciados farão um festim com a carne do Leviatão, esse monstro que vive no fundo dos oceanos.
Sim, ele será apanhado, esquartejado, salgado... e conservado em arcas frigoríficas, suponho!... E, chegada a altura, todos os Justos se regalarão com alguns pedaços da sua carne.
Que perspectiva divertida!
Se se entender isto à letra, creio que muitas pessoas - cristãos, estetas - ficarão verdadeiramente enojadas.

É necessário interpretar, e aqui está a interpretação: o Leviatão é uma entidade colectiva que representa os habitantes do plano astral (simbolizado pelo oceano), e quando se diz que esse monstro há-de um dia regalar os Justos, isso significa que aqueles que sabem dominar-se e utilizar as cobiças e as paixões do plano astral, podem descobrir nelas uma fonte de riquezas e de bençãos.

OMRAAM MIKHAËL AÏVANHOV

http://lotusdourado7.blogspot.pt/

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