domingo, 2 de outubro de 2016

Você é responsável apenas por si mesmo

Quase todo mundo tem uma história sobre um parente ou amigo que parece sempre enredado em problemas, dilemas e situações difíceis dos quais se mostra mais prisioneiro do que agente da própria vida.

É a tia que se queixa do marido, que é grosseiro, ou bebe demais, ou joga e tem dívidas, mas do qual ela não se separa e nem ao menos tenta enfrentar, limitando-se a reclamar em qualquer oportunidade e com quem se dispuser a ouvi-la.

É a amiga com problemas de saúde, por estar com excesso de peso, mas que não muda os hábitos alimentares e permanece sedentária, faz uma viagem e gasta o dinheiro da terapia (caso verídico que me foi relatado), e continua se comportando como se a obesidade fosse algo que fugisse à sua responsabilidade.

É o primo já bem crescidinho que mora com os pais, acorda às 11 horas e resmunga que não consegue emprego porque não tem sorte, os entrevistadores não simpatizam com ele, o salário é muito abaixo das expectativas etc.

Ou, caso muito comum, é a outra amiga que se envolveu com um homem que, na melhor definição possível, é uma roubada, do amor dela, da juventude dela, às vezes até da bolsa dela. Enfim, os exemplos se multiplicam, mas a história desses personagens é uma eterna reprise: mesmo roteiro, diálogos e desfecho.

Mas você se preocupa com a pessoa, claro, afinal, gosta dela, e está sempre disposto a ouvi-la e tentar aconselhá-la a mudar, a seguir as recomendações médicas, a procurar ajuda especializada quando o problema assim o exige, a tomar as rédeas da própria vida em vez de esperar que os outros o façam, a parar de investir em pessoas e situações que já se mostraram uma aposta perdida, a não gastar mais energia com aquilo que só traz frustração, sofrimento ou prejuízo financeiro, ou seja, a sair do ciclo vicioso, a desistir de esperar que, com o tempo, tudo se resolva ou qualquer outro tipo de pensamento mágico que empurra a decisão para fora dela mesma. E, principalmente, a convencê-la a parar de reclamar, sair do papel de vítima (isso você não diz, mas pensa) arregaçar as mangas e ir à luta por si mesma, por sua felicidade e saúde mental.

O tempo passa, as estações sucedem-se e, mesmo com todo seu apoio e compreensão, o indivíduo continua exatamente como sempre. Talvez você olhe em volta e perceba que os outros já desistiram e nem o escutam mais, que já se tornou “um caso perdido”, no comentário sussurrado de alguns. Isso é triste, você percebe que as tentativas de ajuda fracassaram, mas como abandonar uma pessoa querida?

Dói desistir de quem se aprecia, e também é difícil admitir a impotência em relação ao outro, há uma certa sensação de fracasso envolvida. Mas pare e reflita: quais os motivos para que ela permaneça numa situação insatisfatória? O papel a que se impôs lhe traz algum ganho, como conseguir atenção? Ela tem baixa autoestima e se considera culpada pelo que lhe acontece, talvez por ter crescido numa família pouco ou nada apoiadora? Ou passou pela infância acreditando que as necessidades dos outros têm prioridade sobre as suas próprias, por ter tido pais que demandavam mais atenção do que davam?

Os motivos podem ser vários, eles explicam, mas não justificam uma postura passiva em relação ao mundo. Não se pode ser espectador da própria vida. Por mais marcas que se carregue na alma, um adulto pode e deve se libertar das limitações e buscar uma existência mais plena. Sempre é possível melhorar, evoluir, mas, para isso não basta querer. Trata-se de um compromisso que não admite dúvida ou desistência na primeira dificuldade, porque haverá muitas de ambas, todas produzidas pelas crenças desenvolvidas ao longo do tempo, de que se é incapaz ou não merecedor de ser feliz, entre outras.

Mas, lembre-se, não é sua responsabilidade convencer alguém a mudar.

Maria Cristina Ramos Britto -

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