quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Como identificar nossas emoções

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CESSEMOS DE NOS IDENTIFICAR COM NOSSAS EMOÇÕES
A segunda maneira de enfrentar nossas emoções perturbadoras consiste em dissociar mentalmente a emoção que nos aflige. Habitualmente, nós nos identificamos completamente com nossas emoções. Quando somos tomados por um acesso de raiva, transformamo-nos num só com ela. Ela é onipresente em nossa mente e não deixa nenhum lugar para outros estados mentais, tais como a paz interior, a paciência ou a consideração das razões que poderiam acalmar nosso descontentamento. Entretanto, se naquele momento formos ainda capazes de ter um pouco de presença de espírito – capacidade que pode ser treinada -, poderemos cessar de nos identificar com a raiva.
A mente é capaz de examinar o que se passa nela. Basta que ela observe suas emoções como faríamos com um acontecimento exterior que se produz diante de nossos olhos. Ora, a parte de nossa mente que está consciente da raiva está simplesmente consciente: ela não está com raiva. Ou seja, a consciência plena não é afetada pela emoção que observa. Compreender permite tomar distância, conscientizar-se de que essa emoção não tem nenhuma substância, e deixar-lhe espaço suficiente para que ela se dissolva por si mesma.
Agindo assim, evitamos dois extremos, ambos prejudiciais: reprimir a emoção, que permanecerá em algum lugar sombrio de nossa consciência, como uma bomba-relógio, ou deixa-la explodir, em detrimento daqueles que nos cercam e de nossa própria paz interior. Não se identificar com as emoções constitui um antídoto fundamental aplicável em todas as circunstâncias.
Na próxima meditação, tomaremos novamente como exemplo a cólera, mas o processo é o mesmo para qualquer outra emoção perturbadora.
MEDITAÇÃO
Imaginemos que estamos dominados por uma forte raiva. Achamos que não temos outra escolha a não ser nos deixar levar por ela. Impotente, nossa mente se volta sem cessar para o objeto que desencadeou sua raiva, como o ferro em direção ao ímã. Se alguém nos insultou, a imagem dessa pessoa e suas palavras voltam constantemente ao nosso pensamento. E cada vez que pensamos nisso desencadeamos uma nova labareda de ressentimento que alimenta o círculo vicioso dos pensamentos e das reações a esses pensamentos.
Mudemos, então, de tática. Desviemo-nos do objeto de nossa raiva e contemplemos a própria raiva. Seria um pouco como se olhássemos para o fogo, sem continuar a alimentá-lo com lenha. O fogo, por mais violento que seja, não tardará a apagar-se sozinho. Da mesma forma, se simplesmente pousarmos o olhar da nossa atenção sobre a raiva, é impossível que ela perdure por si mesma. Toda emoção, por mais intensa que seja, esgota-se e se esvanece naturalmente quando cessamos de alimentá-la.
Saibamos, enfim, que a raiva, por mais forte que seja, não passa de um pensamento. Vamos examiná-la mais de perto. De onde ela tira o poder de nos dominar a tal ponto? Possui uma arma? Queima como fogo? Esmaga-nos como uma rocha? Podemos localizá-la em nosso peito, coração ou cabeça? Se acreditarmos que sim, tem ela cor ou forma? Teremos muita dificuldade de encontrar nela tais características. Quando contemplamos uma nuvem espessa num céu de tempestade, vemos que ela tem um ar maciço que poderíamos nos assentar sobre ela. Entretanto, se voássemos em sua direção, nada encontraríamos para pegar: só há vapor impalpável. Da mesma maneira, examinando atentamente a raiva, nada encontraremos que possa justificar a influência tirânica que exerce sobre nós. Quanto mais tentamos defini-la, mais ela desvanece sob nosso olhar como a geada sob os raios do sol.
Finalmente, de onde vem essa raiva? Onde está agora? Para onde foi? Tudo o que podemos afirmar é que provém de nossa mente, permanece ali alguns instantes e desaparece em seguida. Quanto à mente, ela é imperceptível, não constitui uma entidade distinta e não é mais do que um fluxo de energia.
Se em cada vez que uma forte emoção surgir nós aprendermos a administrá-la com inteligência, não somente dominaremos a arte de liberar as emoções no exato momento em que surgem, mas também destruiremos progressivamente as tendências que fazem com que as emoções apareçam. Assim, pouco a pouco, nossos traços de caráter e nossa maneira de ser se modificarão.
Esse método pode parecer um pouco difícil no início, sobretudo no calor dos acontecimentos, mas com a prática vai se tornar cada vez mais familiar. Logo que a raiva ou qualquer outra emoção perturbadora surgirem em nossa mente, vamos identificá-las de imediato e saberemos enfrentá-las antes que tomem uma grande dimensão. É como se conhecêssemos a identidade de um batedor de carteira: mesmo que se misturasse à multidão, iríamos localizá-lo instantaneamente e ficaríamos de olho nele para que não roubasse nossa carteira.
Assim, familiarizando-nos cada vez mais com os mecanismos da mente, e cultivando a consciência plena, não deixaremos mais a centelha das emoções nascentes se transformar em incêndio capaz de destruir nossa felicidade e a dos outros.
Esse método pode ser utilizado com todas as emoções perturbadoras; ele permite fazer uma ponte entre a prática da meditação e as ocupações da vida cotidiana. Se nos habituarmos a ver os pensamentos no momento em que surgem, e deixá-los se dissipar antes que tomem posse de nós, será muito mais fácil continuarmos a ser donos de nossa mente e a administrar as emoções conflituosas no meio de nossas atividades diárias."


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