quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

desenvolvimento do homem - O 2o. setênio - 7 a 14 anos


BASE PARA O AMADURECIMENTO PSICOLÓGICO 

“A maturidade escolar a nível físico significa que uma parte das forças que elaboravam os órgãos ao nível da cabeça se emanciparam desse trabalho orgânico, estando livres agora para serem usadas para uma faculdade anímica, a memória e o pensar imaginativo.”
Gudrun Burkhard

Três pequenas fases se sucedem; dos 7 aos 9, dos 9 aos 12 e dos 12 aos 14 anos. Na primeira fase, predomina a formação mais intensiva da cabeça. Especialmente o rosto vai adquirindo sua expressão mais individual. Dos 9 aos 12, poderemos verificar especialmente o crescimento do tórax, bem como o desenvolvimento dos órgãos nele contidos, coração e pulmão. Nessa época, passageiramente, a relação pulso/respiração atinge o equilíbrio do adulto de 4:1.
Entre o 9: e o 10: ano temos um novo momento de “vivência do eu”, em que este se torna mais presente ao nível do sentimento. Nesta época, a criança se sente só, incompreendida, é crítica e necessita de bastante carinho para conseguir relacionar-se socialmente. Geralmente também é a fase do primeiro “amor”, quase sempre platônico, passando desapercebido pelo outro. Na época dos 12 aos 14 anos, a pré-puberdade, dá-se a grande fase de alongamento dos membros, de crescimento longitudinal.
Não vamos entrar nos detalhes do que ocorre em cada uma dessa três sub-fases. Queremos caracterizar o segundo setênio de maneira mais geral. Em relação ao primeiro setênio, sente-se agora uma interiorização, não há mais aquela entrega e abertura total para com o ambiente, mas uma vida interior mais intensa, e há então troca com o ambiente, especialmente a nível social; é como um grande respirar: interiorização e exteriorização. A criança não respira só o ar, mas todo o mundo ao seu redor. A criança pequena vive o mundo, enquanto que a em idade escolar, precisa de um adulto que seja o elo de ligação entre ela e o mundo. Este elo deve ser uma pessoa que a criança ame profundamente; geralmente o professor ou a professora que passa a ser a “autoridade” amada pela criança. A autoridade amada é o elemento mágico da educação, dessa época. O que aquele professor diz e transmite é o verdadeiro. Se nos lembrarmos de nossa infância, veremos que guardamos apenas os ensinamentos transmitidos pelos professores que amávamos. A atitude básica cultivada nesse setênio é a devoção e a veneração.
Ao nível do pensar, agora a criança tem aptidão para o cultivo da memória; o seu pensar tem caráter mais imaginativo, e ainda não intelectual, lógico; daí o interesse por contos de fadas, lendas, fábulas, histórias da Bíblia, que alimentam a alma da criança. Nas escolas Waldorf esses elementos são usados como material de ensino, pois transmitem as grandes verdades do mundo e da alma em forma de imagens. Somente na época da pré-puberdade é que surge cada vez mais o pensamento lógico a ser então cultivado. Também aqui a fantasia criativa se desenvolve. Uma criança nessa idade permanece por horas em cima de uma árvore ou no sótão, onde constrói “castelos no ar”, onde ora é o grande herói, ora o escravo, ora a princesa ou a gata borralheira. Essa fantasia criativa será a base do entusiasmo e da criatividade entre 28 e 35 anos.
A parte rítmica, base do sentimento, é cultivada através de todo um ensino rítmico (maiores detalhes vide literatura especializada), e especialmente através de arte e religião. Arte e religião deveriam permear todo o ensino; não uma religião sectária, que logicamente também nesta fase tem o seu lugar, mas uma atitude “religiosa” perante os três reinos da natureza, o reino mineral as plantas e os animais. Através de um ensino artístico, a criança abre os olhos para o mundo; “o mundo que é belo” precisa ser sentido com toda a força do coração. O repetir constante e rítmico vai permitir um aprendizado que se incorpora não só a nível intelectual, mas em todo o corpo, permitindo o desenvolvimento de uma volição sadia.
Nesta época, também o temperamento da criança se torna bem visível e característico e deve ser levado em consideração, tanto na escola como no lar (vide bibliografia).
Nesta fase também se fundamentam os costumes e hábitos, como por exemplo, os hábitos alimentares, higiênicos ou o de rezar. Se adquiridos nesta fase, muitos desses hábitos irão manter-se por muitos e muitos anos. Igualmente o comportamento dos pais poderá determinar como mais tarde o adulto interagirá no seu casamento ou como irá liderar um grupo. Nesta época uma couraça de normas nos pode ser incutida com tal intensidade, que impedirá que desenvolvamos a vida dos sentimentos mais tarde, tais como: menino não chora ou não brinca com bonecas; menina não trepa em árvores, etc. e outras frases que ouvimos constantemente: “Você tem duas mãos esquerdas” ou “Você é a ovelha negra da família” ou então um professor que diz: “Não adianta, você não aprende mesmo”. Estas coisas, numa fase posterior especialmente entre os 28 e 35 anos, vão dificultar o desenvolvimento sadio de nossa vida anímica (psíquica).
A intelectualização precoce – que impossibilita o desenvolvimento da fantasia criativa -, a falta de desenvolvimento do sentimento e da atitude de veneração e devoção perante as pessoas e o mundo, e a falta de repetição rítmica constante, do treino, do 

exercício de persistência, poderão ser os empecilhos para o desenvolvimento de um pensar, sentir e agir sadios em fases posteriores.


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